SamPará

Tati Carvalho, 26, publicitária, expert em perder objetos de pequeno e médio porte dentro do carro. Adora viver em São Paulo, porque há mais bares do que se pode conhecer. Resignada, vai sempre nos mesmos 5. Tem coragem de se jogar de cabeça. Sempre.
Apoena Augusto, 30, administrador, se descobriu pirofágico das estrelas. Vive em Belém e acha que o seu nome é prefixo para todas as coisas entre o céu e a terra. Adora sua moto (que trata como filha) e intervalos comerciais.

sexta-feira, maio 25, 2007

Dá pra ser cinza?

Encontrei.

Depois de tentar a sorte entre dezenas de marcas diferentes; percorrer centenas de quilômetros entre os corredores de supermercados país afora; pedir indicações aos amigos; ligar para o Walter Mercado; fazer contato mediúnico com a Mãe Diná e ir na corda do Círio de Nazaré 15 vezes seguidas de joelhos, finalmente, das mãos de um anjo (e meio por acaso, como costumam acontecer as boas coisas da vida), encontrei um shampoo que deixa meu cabelo macio.

Não que eu tenha o cabelo ruim...

(pausa para reflexão)

Bom, tudo bem, vá lá... o bicho é ruim, sim. Mas que fique claro que dentro da escala "apoênica" de classificação capilar, abaixo de ruim ainda é possível encontrar: "péssimo", "catastrófico" e, o pior de todos, "te mata que talvez dê jeito".

Mas voltando ao milagre da ciência cosmética, para quem sempre se sentiu um Globe Trotter (ou o sexto integrante dos Jackson Five), apreciar a textura de um tapete persa na própria cabeça foi tão agradável quanto ganhar a primeira Caloi.

Era como se, a partir daquele momento, a outrora inseparável amiga escova, responsável por, digamos, ajustar a moldura do rosto por tanto tempo, pudesse ser aposentada para dar lugar a um singelo pente; o vento, sem sequer pedir licença, bagunçasse a complexa armação capilar com um simples sopro. Enfim, era a glória industrializada e comercializada em um pote cor-de-... ROSA!

Era perfeito demais para ser verdade.

Como explicar que eu, um varão criado no açaí com jabá, que sempre olhou a sola do sapato pela frente, nunca por cima dos ombros; demitiu a manicure que tentou passar base nas minhas unhas; assistiu todos os filmes do Rambo e vibrou na hora em que ele cauterizou com a própria faca, a sangue frio, um corte na barriga, iria passar no caixa do supermercado com uma embalagem de shampoo ROSA?

Tinha que haver uma solução.

Eu poderia entrar no supermercado disfarçado de marido moderno, que ajuda nas tarefas de casa, com uma listinha de compras escrita com letra bem redondinha, do tipo que as mulheres delicadas têm, pois usaram bastante o caderno de caligrafia na alfabetização.

Poderia ainda me fantasiar de músico ou publicitário, afinal, ninguém mais estranha mesmo o que esse povo faz.

Bom... algumas pestanas fritas e cheguei à conclusão de que não adiantava nada me torturar. O jeito era ir até lá, ficar cara-a-cara com a gôndola e, sem medo de ser feliz, pegar aquele bendito frasco ROSA.

Ainda me incomoda aquele sorrisinho de canto de boca que a tia do caixa faz para mim...

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