SamPará

Tati Carvalho, 26, publicitária, expert em perder objetos de pequeno e médio porte dentro do carro. Adora viver em São Paulo, porque há mais bares do que se pode conhecer. Resignada, vai sempre nos mesmos 5. Tem coragem de se jogar de cabeça. Sempre.
Apoena Augusto, 30, administrador, se descobriu pirofágico das estrelas. Vive em Belém e acha que o seu nome é prefixo para todas as coisas entre o céu e a terra. Adora sua moto (que trata como filha) e intervalos comerciais.

domingo, agosto 27, 2006

Vou-me embora para a Passárgada

Vou-me embora pra Passárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
(Manoel Bandeira)

Alguém lembra daquele filme aonde um menino de 12 anos acha uma máquina dos desejos e, cansado de uma vidoooona cheia de proibições, ele pede pra ser grande? Uma das melhores cenas de todos os tempos da Sessão da Tarde aliás, vem desse filme aonde o já grande Josh, Tom Hanks, é contratado como vice-presidente de uma companhia de brinquedos e resolve passear pelas lojas experimentando-os. Acaba tocando uma musiquinha que desde que comecei este texto não me sai da cabeça (Heart and Soul, chama) com os pés, em um teclado de chão enorme. Na verdade acaba mostrando que meninos são sempre meninos, sempre com seus brinquedos.
Mas essa não é a história que eu queria contar aqui. A minha é sobre como esta semana eu quis pedir ao contrário. Eu queria ter doze anos, por pelo menos uma semana de novo, só pra descansar.
Lógico, não dá pra reclamar, nos últimos anos até que conquistei bastante coisa: independência financeira, reconhecimento, alguns namorados de verdade, daqueles que vale a pena se apaixonar, algumas paixões fulminantes daquelas que vale a pena se entregar, poder sair e se entregar em uma balada dançante daquelas de voltar de manhã, pingando, de alma lavada, poder sair e ficar a noite inteira jogando papo pro ar com os amigos,...
Mas também existem aqueles dias em que a gente lembra que há responsabilidades e cobranças. Que é preciso fazer planos e ir atrás de objetivos e que existe o risco, bem real, de depois de planos feitos e coração investido neles, tudo pode acontecer ao contrário do que se quis.
Um desses dias aconteceu esta semana. Me ofereceram uma passagem só de ida para Passárgada. E eu juro que minha primeira reação foi tentar encontrar a máquina de desejos pra pedir pra voltar pra casa meio-dia, depois de um último período de rodinha de vôlei no pátio da escola, comer bolacha recheada de chocolate, adormecer vendo Sessão da Tarde sem ter que decidir nada. Até tentei ter esse gostinho e saí pela rua de Maria-chiquinhas (baixas, discretinhas, fáceis de por via das dúvidas, arrancar rapidinho sem precisar ficar alisando o cabelo para não parecer o Bozo) me lambuzando com picolé Chicabon, mas depois do segundo “posso dar uma lambidinha?” de sujeitos desconhecidos eu desisti. Pelo menos a Lucia ainda me deixa comer o resto de massa de bolo de chocolate direto da batedeira; mesmo que só na privacidade do meu lar, já é um alento.
E foi assim, depois que descobri que não vou conseguir ser Josh por um dia (apesar de que o tecladão de chão do Tom Hanks, configura de minha lista de presentes de Natal, afinal a musiquinha continua na minha cabeça) que respirei fundo e pedi que esperassem até segunda-feira pela minha resposta, para assumir de vez que meus planejamentos para 2006 (e daqui pra frente) saíram as avessas (não ruim, só diferente, diria mamãe).
Acho que vou acabar indo pra Passárgada. Será que consigo conhecer o rei? (ou a Rainha, quem sabe,...)

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ainda um dia desses, na porta de um prédio vi um menino jogando bola com seu amigo, a faixa de idade era 10anos no maximo. Veio um filme, de quando eu era criança, comentei com meu amigo que queria voltar a esse tempo bom, onde não precisavamos nos preocupar com nada além das notas no colégio (que no meu caso não era preocupaçao, pelo menos pra mim..rs, deixava isso pra minha mae)E conscidentemente estava lendo uma crônicade no livro Comédias da vida privada escrita por Verissimo, onde ele retratava bem essa vontade que o adulto tem de querer voltar a ser criança.

Vc foi muito feliz na colocaçao e nao forma como deixou claro que nao é por tempo indeterminado, é apenas tempo suficiente para ter tempo de pensar na vida.

Parabéns!

11:20 PM  

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