SamPará

Tati Carvalho, 26, publicitária, expert em perder objetos de pequeno e médio porte dentro do carro. Adora viver em São Paulo, porque há mais bares do que se pode conhecer. Resignada, vai sempre nos mesmos 5. Tem coragem de se jogar de cabeça. Sempre.
Apoena Augusto, 30, administrador, se descobriu pirofágico das estrelas. Vive em Belém e acha que o seu nome é prefixo para todas as coisas entre o céu e a terra. Adora sua moto (que trata como filha) e intervalos comerciais.

terça-feira, julho 11, 2006

Terra estranha com gente esquisita

Sabe o que eu acho horrível, pavoroso mesmo? Essa mania de falta de contato, isolamento, que as pessoas estão desenvolvendo. Uma amiga que acabou de comprar seu próprio apartamento me contou que apartamentos com elevador privativo "Ué, como pra quê? É pra você não precisar encontrar ninguém, moça!" são mais caros!
Achei de muito mal gosto, a não ser, claro, que Marilyn Manson viva no seu prédio, transformando qualquer oportunidade de encontro matinal num verdadeiro virador de estômago; ou o Latino, mas aí eu me transfiguraria em Forrest Gump a qualquer prenúncio de festa. Vai que passo por lá por engano e ele me recebe com: “Olá, prazer/ A noite... hum... é nossa”. Run Forrest, Run!!!
Enfim, excluindo-se a possibilidades daí de cima, eu prefiro encontrar as pessoas do que pagar pra fugir delas. Até porque, quem sabe, um bom dia inesperado pode melhorar seu dia. O meu, por exemplo, já foi sensivelmente animado pela presença de um bom dia bíblico (ou mitológico talvez, nunca sei). Eu explico: imaginem eu, 7 aninhos, perdida no meio das minhas marias-franciscas (eram de muito respeito minhas chiquinhas. Grandes e vistosas, bem merecem o tratamento formal). Mas enfim, estava lá perdida na porta do colégio quando o guardinha apareceu parando todos os carros para que eu pudesse cruzar a rua, chupando meu sacolé de laranja (sempre gostei desse mais do que o de morango; pra quem não se lembra esse é o da cobrinha), em segurança. E essa cena se repetiu diariamente, por anos.
Pois bem, muito tempo depois estou eu, saindo do meu prédio, atrasada para o trabalho como de usual e murmuro um bom dia para os porteiros, como de usual. Mas ouço: “bom diiiia, Dona Tati!!!”. Era ele mesmo, meu herói das estradas (ta bom, era só uma ruinha). Meu herói da ruinha agora é meu porteiro!
-Ooooi, seu guardinha! – lógico que o nome dele não era guardinha, era Noé (ou Noel, eu não sei até hoje e tenho vergonha de perguntar de novo), mas o fato é que depois de salvar todos os animais do mundo da maior enxurrada já vista, presentear todas as criancinhas boas, adestrar as renas E nos ajudar a atravessar ruazinhas ele ainda se lembra de mim!
A partir desse dia, não importa o quão de mal-humor eu esteja de acordar cedo, sempre poupo umas forcinhas pra poder dizer: “bom dia Seu NÔ...”(é até onde eu vou por enquanto, mas um dia um dos bichos dele ou seus duendes aparecem por aqui e eu descubro se é Noé ou Noel!)
Mas voltando a vaca fria, ou, para o bem da narrativa, aqui chamaremos cold cow, o ponto é que descobri hoje que os ingleses não têm um Seu Nô na vida deles e, deve ser por isso, já entraram de cabeça nessa de isolamento. É só ler qualquer revista deles (eu fiz isso hoje) e você vai achar as coisas mais esdrúxulas:

Personal Academia Companheiro (juro que não é Tabajara) – Um programa desenhado para quem está (pasmem) cansado de ter que ver e conversar com gente na academia. Você programa no seu celular sua rotina de treinamento e ele te manda SMS a intervalos regulares, nos dias e horários que você deveria estar treinando com mensagens de incentivo, tipo : “força, só mais um pouquinho, não pára, seu frouxo!!!”. É quase um tamagoshi da maromba. Duro é o dia que você resolver cabular a malhação pra sair com a gatinha: “força, só mais um pouquinho, não pára, seu frouxo!!!” é ruim, hein?

E já que gente é tão chato mesmo, pra que sentir falta delas? O artigo principal da revista trazia o título: “Seu marido morreu? Como esquecê-lo e parar de sofrer em apenas 4 simples passos.” Achou bizarro?
Eu larguei a revista e resolvi correr (na direção oposta) por 40 dias e 40 noites. Ainda estou fugindo. Socorro, seu Nô!

1 Comments:

Blogger Apoena Augusto said...

Ice Pop era tão bom que eu nem conseguia esperar virar picolé. Tomava antes...

4:02 PM  

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