Liga o Atari e traz o meu Guaraná Garoto
Meu pai assistia à TV na época do "televizinho". Dava a hora do programa favorito, que deveria ser o clássico "Vigilante Rodoviário", a rua inteira se amontoava à janela da única casa que possuía a maravilhosa caixa mágica. Povo criativo. Já previa o futuro da televisão colando na tela papel celofane colorido.
Eu tive mais sorte. Consegui assistir "Domingo no Parque", com o empalhado Silvio Santos, ao vivo e em cores, se divertindo com as pessoas trocando carros zero km por caixas de fósforo simplesmente dizendo: "siiiiiiiimmmmmmmm".
Naquela época, bons mesmo eram os tênis All Star ou o famigerado Montreal. Conga branco reinava absoluto nos pés de 10 entre 10 colegiais, a não ser em dia de jogo de futebol, porque aí entrava em campo o rei dos calos, Kichute. Amarrar aquele cadarço gigante na canela, como diria o Mastercard, não tinha preço.
Xuxa, que ninguém esquece aquele garotinho bolinando nela no único filme onde seus seios, e que seios, aparecem, "Amor estranho amor", alegrava os finais de manhã de quem estudava no primeiro período e chegava em casa direto para TV para assistir He-man, Os Smurffs, Thundercats e, claro, A Caverna do Dragão. Ainda não me conformo com o fato deles terem morrido, o Mestre dos Magos, apesar da aparência inocente de Papai Noel dos anões, ser um patife falso e a unicórnio Uni não passar de uma armadilha chifruda. Desde então passei a desconfiar de todos os seres cornudos.
Na porta do colégio, e para a alegria dos dentistas, Pirocóptero e Dip'n'lik seguiam deixando as crianças mais verminosas e careadas, porém muito mais alegres.
Diversão para o final da tarde, após o lanche com pão, manteiga e Guaraná Garoto, era chamar a galera da rua para jogar Atari. River Raid, X-Man (nunca entendi porque o nosso herói tinha a ponta do play ground quadrada. Dava uma pena da mocinha...), Space Invaders, Pac Man e tantos outros faziam o terror das primas que queriam assistir à novela das seis, das sete e das oito (também nunca entendi porque a novela das oito só começava às nove). Só havia uma regra: nunca ganhar do dono do video game. Era decretar o fim da brincadeira. Sorte deles sempre terem respeitado esse mandamento.
E como nem tudo são flores, é claro que deveria haver alguma coisa ruim. Na verdade, era mais aterrorizante que a trilha de Psicose, mais apavorante que Freddy Krugger, mais cruel que o facão de Jason. E acontecia sempre aos domingos. Impossível pensar em algo que pudesse causar mais pânico que a zebra do Fantástico piscando e dizendo: "coluna do meio". Até hoje sonho com ela...
Enquanto isso, no rádio, Rita Lee arrebentava com seu hit Lança Perfume, Blitz começava a virar lenda e RPM ainda arrancava gritinhos à lá Menudos das tietes do estiloso e ex-pegador Paulo Ricardo. Sim, porque depois da Luciana Vendramini, não se teve mais notícia sobre a qualidade das namoradas do rapaz. É claro que é perfeitamente compreensível, pois manter aquele padrão deve ser bem difícil...
Com um período tão rico culturalmente, não é de admirar a onda oitentista que tem invadido boates e festas pelo país afora. Então traz um pão com manteiga que eu vou pedir um Guaraná Garoto!
6 Comments:
Ótimas lembranças, é sempre muito bom relembrar esse maravilhoso anos 80, mas descordo de dois ícones: como é possível ter medo da zebra que dizia ¨coluna do meio¨, ela era muito fofa e principalmente, mil desculpas mas comprar um baré na taberna da esquina não tinha prazer melhor, além de custar algumas moedinhas que ainda eram divididas entre os amigos. Posso até sentir o sabor.
Adorei relembrar.
Qualquer coisa que tenha os olhos de um desenho japonês tipo Jiraya e voz de tuíta rachada não pode ser classificada de "fofa". Quanto ao Baré, o Tutti Frutti, claro, também achava uma delícia, mas ele é de uma geração posterior ao Guaraná Garoto que, por isso, ganha status mais nobre nas minhas lembranças papa-chibé.
Eu gosto da menina que põe-a-capa-e-fica-invisível, como é o nome dela, Sheila? Ela e o Presto eram meu casal favorito da caverna do dragão... ele tira cobras e lagartos do saco e ela some,...
Os All Star´s são objetos de desejo ainda hoje, eu mesma tenho dois: um jeans e um rosa (de cano baixo, bom dizer). Mas o meu gosto pela coisa foi adquirido recentemente, naquela época eu usava Ked´s. E lembro bem do Kichute, porque os meninos do meu prédio se revoltavam quando a gente brincava de boneca na garagem-espaço-de-brincar-campinho-de-futebol (eu nunca tive um playground, para azar dos proprietários de carros do prédio) e resolviam calçar seus kichutes para praticarem chute a gol com as nossas Suzies (que eram mais legais que a Barbie. Minha Suzy inclusive, tinha um corte moicano, mas isso já é outra história,...).
Puxa vida, eu bem que relutei pra não escrever a frase que eu adoro falar e vc odeia ouvir - ¨não era do meu tempo¨ - hehehehe ... e vc fez questão de deixar registrado, fazer o q né? Como são as coisas.
ADOREI muuuuuuuuuito.
Bjssss
PS: a zebrinha era ¨fofa¨ sim!
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
O All Star voltou à moda junto com a nostalgia que fez ressurgir das cinzas, nobres, diga-se, os anos 80. Chutar a Suzy, por outro lado, deve produzir altos índices de endorfina. Me deu até vontade de experimentar. Sabe como é... fui tão bonzinho quando pequeno... Coisas de quem tinha o papel de "Pequeno Príncipe" a representar.
Fofa ou não, além de "abiscoitada", como bem lembrou a Tati, a zebra era assustadora, sim! Se ela fosse um bicho de pelúcia, teria cometido mais crimes que Chuck, o brinquedo assassino.
Postar um comentário
<< Home