SamPará

Tati Carvalho, 26, publicitária, expert em perder objetos de pequeno e médio porte dentro do carro. Adora viver em São Paulo, porque há mais bares do que se pode conhecer. Resignada, vai sempre nos mesmos 5. Tem coragem de se jogar de cabeça. Sempre.
Apoena Augusto, 30, administrador, se descobriu pirofágico das estrelas. Vive em Belém e acha que o seu nome é prefixo para todas as coisas entre o céu e a terra. Adora sua moto (que trata como filha) e intervalos comerciais.

sábado, maio 20, 2006

Vizinho é...

Tudo ia bem no 13º andar do Peixotão, apelido nem tão carinhosamente dado pela população a um dos edifícios de fauna mais diversificada do coração da capital paraense. Foram mais de 10 anos mergulhados em uma calmaria antes vista somente nos longas de Akira Kurosawa. Era tudo tão perfeito que até a enfadonha e quase inevitável troca de gentilezas matinais no corredor, à espera do elevador, raramente acontecia.

Arrastar de móveis, ejaculações vocais, portas diuturnamente abertas, criança. Barulho, muito barulho. Impossível não perceber que a paz até então saboreada como a um incomparável sorvete de tapioca da Cairú - até a casquinha de biscoito - estava por encontrar um barulhento e adiposo fim.

Segunda-feira, sete e trinta da manhã. Sair para o trabalho nunca mais seria a mesma coisa após o que só poderia ser descrito como a visão mais espaçosa e assustadora que o inferno pode representar. Uma mulher aparentando uns quarenta e poucos anos e, talvez, cento e trinta quilos indelicadamente distribuídos, desfila sua corpulência completamente desprovida de pescoço enrolada em uma toalha. Percebendo o choque no olhar de seu novo vizinho, sem pudor, sorri e acena desejando um bom dia. Como se fosse possível depois daquilo...

Infelizmente foi apenas o começo.

7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Risos... Meu chefinho... Com toda certeza o episódio foi traumático, mas não consegui não rir imaginando a sua reação!... E mais... se prepare, pois há grande possibilidade desse encontro virar rotina.

Te cuida!

11:11 PM  
Blogger Tati Carvalho said...

Muda daí menino!!! O boneco Michelin na porta ao lado, Lucifer no elevador,... tão difíceis seus dias, hein?

11:32 AM  
Anonymous Anônimo said...

Quanta discriminação...
Quer dizer que uma doença, como obesidade, te causa tanto horror?
Tadinha... deixa a mulher andar de toalha, ora...

2:11 PM  
Blogger Apoena Augusto said...

Todas as mulheres fofas e sem pescoço têm o direito de andar de toalha pela casa. Mas precisa ser de porta aberta para todo mundo ver? E o meu direito de ter um bom dia? Onde fica?

2:51 PM  
Anonymous Anônimo said...

Esse é o erro. Te sentires agredido pq alguém está doente e tu vendo a cena. Então não gostas tb de conversar com quem tem AIDS? Entende que é a mesma coisa?

3:18 PM  
Blogger Apoena Augusto said...

Bom... não é o propósito deste blog, mas já que a pergunta pede uma resposta séria, vou tentar:

Não sou uma pessoa preconceituosa. Tenho vários amigos negros, gays, lésbicas, bissexuais, gordos, muuuuito gordos, magros, muuuuuito magros, japoneses, libaneses, judeus, enfim... um verdadeiro ecossistema de amigos. Todos maravilhosos, cada um a seu jeito.

A questão é que as pessoas precisam ter a capacidade de não se levar à sério o tempo todo. O que seria de mim se fosse ficar chateado com todas as brincadeiras que fazem por conta da cor de azulejo de hospital que tem a minha pele? Estão me discrimindo porque sou branco demais? Cadeia neles! Processarei também a todos que me chamarem de Dumbo! Orelhudos também são minoria, oras.

A vida precisa ser encarada de outra forma. Quem consegue se divertir com seus próprios problemas vive melhor e não perde tempo processando ninguém.

Um excelente exemplo é a própria vizinha sem-prescoço. O tempo todo sorrindo! De quê, não sei... vai ver era das minhas orelhas...

4:18 PM  
Anonymous Anônimo said...

Chefe... esqueceu de citar o nariz!...

Beijos!

10:05 PM  

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