SamPará

Tati Carvalho, 26, publicitária, expert em perder objetos de pequeno e médio porte dentro do carro. Adora viver em São Paulo, porque há mais bares do que se pode conhecer. Resignada, vai sempre nos mesmos 5. Tem coragem de se jogar de cabeça. Sempre.
Apoena Augusto, 30, administrador, se descobriu pirofágico das estrelas. Vive em Belém e acha que o seu nome é prefixo para todas as coisas entre o céu e a terra. Adora sua moto (que trata como filha) e intervalos comerciais.

segunda-feira, maio 22, 2006

Já comeu?

Apelidos são carmas, ou bênçãos, que alguns carregam por toda vida. Será que Edison Arantes do Nascimento conseguiria se manter sob os holofotes por tanto tempo depois de pendurar as chuteiras sem o mundialmente conhecido "Pelé"? E José Bispo? Quem seria capaz de dizer assim, na bucha, que foi o nome de batismo do falecido sambista de personalidade forte e língua afiada, "Jamelão"?

Por outro lado, há pessoas que, ao nascer, não se sabe se do Céu ou do Inferno, recebem um dom: o de colocar apelidos. E eles começam a exercitar muito cedo, já no jardim de infância, e vão se aprimorando a cada ano que passa. No auge, basta um só olhar para relacionar o layout alheio a algo que, invariavelmente, é a cara da vítima. "Coisa de gênio!", dizem os maldosos. Deve ser mesmo.

Pois o que representa uma espécie de toque de Midas para uns, pode não passar de uma bigorna nas costas de outros.

E nesse universo de criatividade alternativa, os casos mais curiosos são os "autofágicos". Pessoas que tem a capacidade de criar apelidos para si mesmas, aparentemente sem querer.

Um exemplo clássico em Belém é o de um amigo que, por motivos óbvios, não terá seu nome citado, mas que, para azar dele, é uma pessoa bem conhecida. Pelo apelido, claro.

Imagine a situação:

Você está na porta do lugar onde, diariamente, tenta queimar tudo aquilo que não deseja que se acumule na cintura. Encontra uma conhecida qualquer e começa a trocar frases intelectualmente descompromissadas do tipo: "Chegou tarde hoje, héim? Vai malhar o quê?". Nada que se alongue por mais de cinco minutos, o que já é suficiente para tomar coragem, entrar e encarar a bendita esteira elétrica que, invariavelmente, obriga os persistentes anti-atletas a fitar a novela das oito ouvindo o que mais parece uma trilha sonora de aparelhagem.

Eis que chega o incauto e pega o bonde andando. Diminui o passo e caminha sorrateiramente, como se esperasse propositalmente o fim da conversa para, então, dizer "oi" e, sem vaselina, apontar com os lábios em direção a conhecida que já ia longe e disparar um SMS verbal: "E aí? Já comeu?".

Esse, quando morrer, levará para o túmulo o apelido que a terra há de comer.

eXTReMe Tracker